O que é mais importante – a hereditariedade ou o meio?
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Indubitavelmente, importa ressalvar que nenhuma teoria sobre o desenvolvimento humano é aceite universalmente, na medida em que nenhuma explica todas as dimensões do desenvolvimento.
De facto, toda a teoria do desenvolvimento da criança
tem necessidade de considerar a hereditariedade e o meio como peças influentes
no desenvolvimento da criança. Não obstante, os teóricos diferem na importância
concedida à natureza, ou seja, aos traços e às características herdados dos
seus pais biológicos e à educação, isto é, influências ambientais, quer antes e
após o nascimento, comportando influências da família, pares, escolarização,
sociedade e cultura.
Hodiernamente, é possível medir os papéis da
hereditariedade e do meio para explicar as diferenças individuais em traços
específicos tal como a inteligência, a par da presença dessas influências ao
longo do ciclo vital. Todavia, a investigação aponta para uma interação entre a
hereditariedade e a experiência. Neste sentido, pode-se concluir que apesar da
inteligência ter uma forte componente hereditária, a estimulação dos diferentes
agentes de socialização, introduzem a diferença.
Paralelamente, nesta esfera, levanta-se uma questão:
o desenvolvimento é ativo ou passivo? Noutras palavras, a criança tem um papel
ativo no seu desenvolvimento ou é apenas uma “esponja” passiva? Esta questão é
igualmente simplista, pois os fatores supracitados interagem.
De acordo com uma breve revisão bibliográfica,
destacam-se cinco perspetivas do desenvolvimento humano. A perspetiva psicanalítica
é alicerçada na teoria psicossexual de Freud, defendendo que o comportamento é
controlado por poderosos instintos inconsciente, na teoria psicossocial de
Erikson que advoga que a personalidade é influenciada pela sociedade e
desenvolve-se através de uma série de crises, na teoria relacional de Miller
que entende a personalidade desenvolve-se no contexto de relações emocionais. A
perspetiva aprendizagem é baseada na teoria do comportamentalismo ou na teoria
da aprendizagem clássica (desenvolvida por Pavlov, Skinner, Watson), entendendo
que as pessoas reagem, sendo que o meio controla o comportamento e na teoria da
aprendizagem social (defendida por Bandura) que advoga aprendizagem através da observação
social e da imitação dos modelos. A perspetiva cognitiva, assente na teoria
cognitiva de estádios de Piaget que aborda o desenvolvimento através de
mudanças qualitativas no pensamento ocorridas entre a infância e a adolescência
e na teoria do processamento de informação, defendendo que os seres humanos são
processadores de símbolos. A perspetiva etológica baseada na teoria da
vinculação de Bowlby e Ainsworth defende que os seres humanos detêm os
mecanismos adaptativos para sobreviver, salientando os períodos críticos ou
sensíveis; as bases biológicas e evolucionistas do comportamento e a
predisposição para a aprendizagem são importantes. A perspetiva contextual
alicerçada na teoria sociocultural de Vygotsky entende que o contexto
sociocultural tem um impacto importante no desenvolvimento.
Na minha óptica, não nascemos “tábuas rasas”, na
medida em que o próprio meio intra-uterino nos influencia, sendo que não se
deve menosprezar os factores hereditários e pessoais do sujeito. Todavia,
aprendemos sobretudo pela observação dos outros. Decerto que os modelos
exteriores, nomeadamente pessoas, meios de comunicação, livros, impulsionam a
aprendizagem. Alguém nasce criminoso? Os irmãos Gémeos apresentam a mesma forma
de ser e de estar? Quando se nasce, se cresce num ambiente desfavorável à
inserção social, a título de exemplo as favelas brasileiras, o que se pode
esperar de quem lá vive? Naturalmente que devemos ter cuidado com as visões
fatalistas, pois muitas vezes são redutoras e lineares, no entanto podemos
afirmar que, comummente, estas pessoas tendem a reproduzir o que observam. Por
outras palavras, a leitura e a interpretação de um comportamento implicam a sua
contextualização, na medida em que existe uma interacção recíproca entre os
factores ambientais, os hereditários e os pessoais e o próprio comportamento do
sujeito. O mesmo será dizer que os três factores exercem influência mutuamente.
Torna-se evidente que o homem é
um ser social: nascido no social, nasce também do social e para o social.
As influências biológicas e as influências sociais combinam-se e são
recíprocas, daí o seu carácter biopsicossocial. Os humanos são seres
relacionais.
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