Desenvolvimento Moral
O raciocínio moral refere-se ao modo como
consideramos certo ou errado um dado acto ou uma dada acção. O modo como o
desenvolvimento moral se desenvolve diz respeito à idade em que a criança poderá
ser considerada moralmente responsável e está ligado ao desenvolvimento
cognitivo. Uma das grandes preocupações dos adultos, principalmente dos pais, no
que diz respeito ao desenvolvimento moral prende-se com o facto de estes querem
que os seus filhos apresentem comportamentos adequados, que não violem as
regras. Assim, podemos afirmar que aquilo que os pais esperam é que os seus
filhos apresentem uma série de padrões de comportamentos concordantes com as
leis em vigor, não entrando em rota de colisão com as
mesmas.
Neste âmbito, sobressaem os trabalhos realizados por
Piaget e por Kohlberg.
Piaget, a partir de experiencias e observações propôs
que a forma como as crianças lidam com as regras se modifica no decorrer do
desenvolvimento. Assim, segundo as suas investigações, concluiu que existem
diferenças na forma como crianças diferentes e de diferentes idades respeitam as
regras. Desta forma, Piaget distinguiu as fases de heteronomia e autonomia
moral.
Na fase de heteronomia moral, as crianças estão
sujeitas a regras que provêm do exterior, sendo essas regras encaradas como
sendo sagradas. As regras são vistas como imutáveis e absolutas, não podendo ser
alteradas. As crianças julgam as acções como sendo boas ou más com base nas
consequências dos seus actos, independentemente das intenções do sujeito. O
desrespeito pelas regras deve levar a punições, e só respeito a uma autoridade e
que leva as crianças a seguirem os padrões de comportamentos estabelecidos,
visto que as regras são vistas como lhes sendo exterior. As crianças tendem a
considerar que sempre que alguém é punido é porque fez algo de errado. Por
exemplo, a uma criança que deixa cair um rebuçado, não lhe deve ser dado outro.
Por outro lado, na fase de autonomia moral o sujeito constrói
as suas regras morais que interioriza e cuja necessidade compreende. A criança
passa a perceber as regras como estabelecidas e mantidas pelo consenso social.
Por exemplo, num jogo existem regras, e essas regras só poderiam ser alteradas
se todos os intervenientes no jogo concordassem.
Assim como Piaget, também Kohlberg, apesar de algumas
críticas, desenvolveu os seus trabalhos sobre o desenvolvimento moral. De forma
a compreender o desenvolvimento moral, Kohlberg realizou uma série de
investigações com jovens e crianças dos Estados Unidos da América, China,
México, Turquia e Malásia. Kohlberg fez um levantamento de dados a 75 rapazes da
zona de Chicago, de classe média, divididos em três grupos, de 10, 13 e 16 anos.
Seguindo o método de entrevistas inspirado Piaget, o entrevistador apresentou
aos diversos sujeitos dilemas morais hipotéticos que deviam ser analisados, e
quando respondidos, devidamente justificados. Este estudo permitiu verificar que
a uma faixa etária está associado um raciocínio moral. Assim, e com base nas
respostas e raciocínios apresentados, Kohlberg definiu estádios de
desenvolvimento moral. O dilema mais conhecido de Kohlberg é o
seguinte:
PARTE
I
Numa cidade europeia uma mulher estava a morrer de
cancro. Um medicamento descoberto recentemente por um farmacêutico dessa cidade
podia salvar-lhe a vida. A descoberta desse medicamento tinha custado muito
dinheiro ao farmacêutico, que agora pedia dez vezes mais por uma pequena porção
desse remédio. Henrique (Heinz), o marido da mulher que estava a morrer, foi ter
com as pessoas suas conhecidas para lhe emprestarem o dinheiro pedido pelo
farmacêutico. Foi ter, então com o farmacêutico, contou-lhe que a sua mulher
estava a morrer e pediu-lhe para o deixar levar o medicamento mais barato. Em
alternativa, pediu-lhe para o deixar levar o medicamento, pagando mais tarde a
metade do dinheiro que ainda lhe faltava. O farmacêutico respondeu que não, que
tinha descoberto o medicamento e que queria ganhar dinheiro com a sua
descoberta. Heinz, que tinha feito tudo ao seu alcance para comprar o
medicamento, ficou desesperado e estava a pensar assaltar a farmácia e roubar o
medicamento para a sua mulher.
-
Deve Heinz assaltar a farmácia para roubar o medicamento para salvar a sua mulher?
-
Se não amasse a sua mulher, Heinz deveria roubar o medicamento?
-
E deveria Heinz assaltar a farmácia para roubar o medicamento para salvar a vida de um desconhecido?
-
E se em vez de um desconhecido, fosse um animal de estimação?
PARTE
II
Supondo que Heinz assaltava a Farmácia. A notícia do
roubo aparecia no jornal. Brown, um polícia que conhecia Heinz, leu a notícia e
lembrou-se de o ter visto a sair a correr da tal Farmácia. Como era amigo de
Heinz, e conhecendo o seu caso, perguntou a si mesmo se deveria
denunciá-lo.
-
Deve o polícia acusar o Heinz de roubo ou ir contra o seu código deontológico?
PARTE III
Supondo que Brown prendia Heinz e este era
levado a tribunal, compete agora ao Juiz determinar qual a sua
sentença.
-
Deve o Juiz condenar Heinz ou suspender a pena e libertá-lo? Porquê?
-
No lugar de Brown escolheria a amizade ou o cumprir da lei?
-
O que faria no lugar de Heinz? Cumpriria a lei ou roubava o medicamento?
Com base neste tipo de questões e dilemas, Kholberg
elaborou uma teoria na qual o desenvolvimento moral se processa a três níveis,
cada um subdividido em dois estádios.
Nível 1: Moralidade
Pré-Convencional
-
Crianças até aos 9 anos, alguns adolescentes e grande parte dos delinquentes.
-
A moralidade e externa ao sujeito, este evita a punição para obter recompensas pessoais.
Estádio 1: Orientação para a punição e
obediência
-
A criança assume um ponto de vista meramente egocêntrico.
-
A criança obedece ás figuras de autoridade e evita infringir as leis para não ser punida.
-
Uma má acção depende das suas consequências, não das intenções subjacentes.
-
Não há uma verdadeira noção de regra.
Estádio 2: Individualismo e troca
experimental
-
A acção correcta é aquela que satisfaz as necessidades do próprio indivíduo e só ocasionalmente a dos outros.
-
Só se devem fazer as coisas aos outros se existir essa mesma reciprocidade da parte deles.
-
A gravidade de uma acção já depende, em parte, da intenção do autor.
-
Não há uma verdadeira noção de regra.
Nível 2: Moralidade
Convencional
-
A maior parte das pessoas fica por aqui, não avança mais.
-
Interiorização e adopção das regras morais.
-
Considera-se correcto aquilo que está conforme e que respeita as regras, as expectativas e as convenções da sociedade.
Estádio 3: Expectativas interpessoais
mútuas
-
Orientação para a aprovação e para agradar aos outros.
-
Saber colocar-se na posição dos outros.
-
Ir de encontro ás expectativas dos outros.
Estádio 4: Sistema e consciência
social
-
Aquele que infringir a lei deverá ser punido.
-
Manutenção da ordem e da autoridade
-
Preocupação com a sociedade.
-
Cumprimento dos deveres para a manutenção da ordem social.
Nível 3: Moralidade
Pós-Convencional
-
Poucos adultos atingem este nível.
-
Não existem soluções fáceis.
-
Os princípios morais são internalizados e tornam-se individualizados.
Estádio 5: Contrato social
-
As leis e as normas não se tomam como um facto consumado.
-
O comportamento moral expressa a vontade da maioria ou maximiza o bem-estar social.
-
A vida e a liberdade são valores que devem ser respeitados e salvaguardados.
-
Utilização dos processos democráticos para modificar a lei e melhorar a sociedade.
Estádio 6: Princípios éticos
universais
-
Comportamento moral interiorizado, mas respeitando sempre princípios universais.
-
A “consciência” própria dirige o comportamento moral.
-
Devemos seguir os princípios éticos por nos escolhidos.
-
Quando a lei viola os princípios éticos, a pessoa deve seguir esses princípios violando a lei.
-
Os princípios de justiça são eternos e universais, pois estão presentes em todas as sociedades e culturas.
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